Papo de Jornalista com Érica Pinheiro

A coluna Papo de Jornalista tem a honra de trazer desta vez, a grande apresentadora Érica Pinheiro! Em um papo muito especial, Érica dividiu conosco um pouco de sua história. Confira!

InterTV Clube: Érica Pinheiro, em que momento da sua vida você tomou a decisão de se tornar jornalista? Teve a influência de alguém para optar por essa profissão?

Érica Pinheiro: Pensando agora, com o distanciamento do momento da decisão, acredito que sempre tive uma alma de jornalista. Desde criança, na escola,  estive ligada às questões que envolviam a coletividade, sempre queria defender os direitos de todo mundo e procurava sempre a melhor argumentação pra conseguir meu intento. Dava certo na maior parte das vezes. Isso seguiu pela adolescência com uma tendência natural a me envolver com os interesses sociais. Mas quando tive que escolher que carreira seguir... Quanta dificuldade. Não sabia mesmo o que fazer. Pensei em direito, psicologia... Até medicina. Mas acabei passando no vestibular de engenharia civil aos 17 anos. Curso que fiz até o terceiro ano, quando depois de muitas dúvidas da juventude, desisti. Tranquei a faculdade e prestei vestibular pra Jornalismo. Acho que foi só nesse momento que me encontrei. Portanto não tive influência de ninguém para seguir a carreira. Só o gosto por noticiar, por escrever, por desvendar, por tornar comum a informação e com isso promover a mudança. Uns dizem que é utopia, eu acredito que é missão.

InterTV Clube: Você iniciou sua carreira no rádio. Sentiu muita diferença quando mudou para o jornalismo televisivo? Por quais emissoras você já passou?

Érica Pinheiro: Foi uma passagem natural. Fiquei dois anos e meio entre estágio e já profissional trabalhando em rádio. Comecei por indicação de um querido professor da faculdade que achava minha voz “radiofônica”. Até hoje tenho saudades do rádio. Um veículo que prima pela imediatez. Quando fui para o Pará, trabalhar em uma rádio, recebi um convite para fazer vídeos institucionais em uma produtora. Fiz alguns trabalhos para estatais e empresas privadas e comecei a trabalhar no SBT em Tucuruí. Quando voltei para São Paulo continuei em televisão. Primeiro pela TV Tem em Bauru, depois TV Fronteira em Presidente Prudente e InterTV no interior do Rio. Todas afiliadas da Rede Globo.

InterTV Clube: A rua ou a bancada – qual delas você considera mais fácil, se é que se pode dizer assim, para um jornalista?

Érica Pinheiro: Não existe “fácil”. Bancada é só a finalização de um trabalho que começou na pauta e terminou ali, com a apresentação efetiva da notícia, da reportagem, do trabalho conjunto de toda uma equipe. Cada um tem seu papel, sua função e é imprescindível para que o trabalho seja finalizado de forma eficiente. Eu passei pela reportagem e pela edição. E não sei dizer o que é mais “fácil” ou mais “difícil”. São situações diferentes que dependem de olhares igualmente diferenciados. Mas ambas as funções igualmente importantes.

InterTV Clube: Na InterTV você começou na bancada do RJ InterTV 1ª edição, onde ficou alguns anos. Atualmente você está à frente do RJ InterTV 2ª edição. Você gostou dessa mudança? É verdade que ela aconteceu porque seu perfil é considerado, na emissora, mais sério e assim, mais adequado ao RJ InterTV 2ª edição?

Érica Pinheiro: Sempre preferi, a minha vida profissional toda, o 2ª edição. Pelo perfil e pela batida das notícias. Pela factualidade ou pelo estilo. Sempre gostei, mesmo como repórter de fazer matérias para o 2ª edição. Sou mais séria mesmo, e isso é uma coisa natural. Mas quando fui contratada para trabalhar na InterTV havia vaga para apresentação e fechamento do 1ª edição. Foi um aprendizado e um desafio. Aprendi muito, mas é óbvio que fiquei muito feliz ao poder voltar a trabalhar em um jornal que acredito sim ser muito mais o meu perfil.

InterTV Clube: Durante esses anos de InterTV, você já teve que dar muitas notícias, boas e ruins. Alguma delas lhe marcou? Você já teve que segurar a emoção ou até mesmo a vontade de falar algo não programado, ao vivo? Como você vê o jornalismo opinativo na TV?

Érica Pinheiro: Como eu já disse e inclusive já foi publicado no blog do InterTV Clube, o momento de maior comoção foi mesmo a tragédia das chuvas na Serra. Lembro de cada imagem vista na ilha de edição, de cada entrevista editada, de cada número que só crescia. Passamos noites na redação à espera dos fatos, das reportagens, das notícias tristes e doloridas. Mas outras muitas marcaram. Nem há espaço para tantas em uma entrevista. Mas ao vivo, não me lembro de nenhum momento que tenha que segurar uma emoção de uma forma incontrolável. Acho que quando entramos “ao vivo” há uma pecinha dentro da gente que liga e desliga, até para conseguirmos fazer o melhor, sem parcialidade. Sobre o jornalismo opinativo, acho natural para quem tem conhecimento e sabe embasar a opinião com fatos. No entanto, são opiniões... não verdades, e assim devem ser encaradas, em minha opinião.

Érica Pinheiro

InterTV Clube: Nesse tempo todo que você tem de profissão, algo inusitado já aconteceu durante uma entrevista ou até mesmo durante a apresentação? É fácil ter “jogo de cintura” nesses momentos?

Érica Pinheiro: Não me recordo de nada muito inusitado. Lembro-me mais de algumas falhas, sejam de equipamentos ou humanas, onde é preciso sim ter jogo de cintura. Nem sempre é possível, nem sempre estamos preparados. Mas, enfim, é nosso dever. Fácil não é... é muito difícil.

InterTV Clube: Pessoas públicas estão sujeitas ao assédio da população. Você lida bem com isso? Teve que mudar alguma coisa na sua vida depois que ficou famosa e reconhecida na rua? Dê sua opinião sobre o relacionamento estreito do jornalista com o público, através do InterTV Clube e das redes sociais.

Érica Pinheiro: Eu não sinto isso. Uma ou outra pessoa nos aborda e pergunta: “você é a apresentadora do jornal?” ou “você é a repórter?" Mas é tudo muito leve e não há assédio algum. Somos normais e vivemos normalmente. Acredito que seja bem diferente para artistas, o que não é nosso caso. Estamos na telinha apenas pelo dever de ofício, porque é assim que a notícia se apresenta na TV. Eu acho mesmo que esse relacionamento com o público deve ser muito natural, como qualquer profissional. Mas é claro que esse trabalho desperta uma curiosidade e que deve saber ser tratada. Não podemos e não devemos nos confundir com celebridades. Faço maquiagem e me arrumo para aparecer no vídeo por respeito às famílias que visito todas as noites sem pedir licença. Tenho que estar apresentável. Não por vaidade. A função é estar ali para informar. Em relação ao InterTV Clube, acho que se trata de um veículo capaz de esclarecer, divulgar e estreitar mesmo qualquer tipo de comunicação com o público que nos assiste. Afinal, a comunicação não pode ter uma via só e esse tipo de trabalho promove o retorno desse trabalho. Transforma a via única em mão dupla. E isso é bárbaro.

InterTV Clube: Você, além de jornalista, é também poetisa. Em seu blog Me, Mim, Comigo sempre publica textos que podemos notar grande sensibilidade e que fazem um convite à reflexão. Quando você descobriu esse talento? Seria uma válvula de escape por lidar todos os dias com a realidade humana, nem sempre boa?

Érica Pinheiro: Olha... as palavras são minha paixão e minha vida. Mesmo quando eu decidi fazer jornalismo, nunca pensei em televisão. Nem mesmo em rádio. Eu só pensava em escrever e mudar o mundo pelas palavras. E elas tem poder... como tem. Sempre as tive com apreço e cuidado. Sempre as cultivei e tentei delas fazer versos. Imitava meus poetas, doces ídolos de infância. Mas a vida me levou por outros caminhos e a escrita, assim como a leitura, se transformaram sim na minha válvula de escape. Como uma espécie de libertação do óbvio ululante. Um momento em que se pode, com requinte, driblar a realidade e recriar um espaço de diversão extrema, onde tudo pode ser dito, redito, escrito, manuscrito... reinventado. Escrever hoje para mim, é sim, imprescindível.

InterTV Clube: Na InterTV existe algum outro profissional que mereça seu aplauso? Só vale citar um.

Érica Pinheiro: Esse povo trabalha tanto e com tanto afinco que seria injusta em citar qualquer nome. Aplauso coletivo, por favor!!!

InterTV Clube: Você foi eleita pelos telespectadores a Melhor Âncora de 2010. Esse retorno do público é importante para você?

Érica Pinheiro: E como. Isso é tudo que se espera. Ninguém faz nada pra si só. Ninguém é uma concha. Somos antes de profissionais, humanos. E por assim ser, somos seres sociais que queremos e precisamos do outro, do reconhecimento do outro, do retorno do outro. As críticas quando feitas de forma construtiva são bem recebidas. Mas ter um retorno positivo como esse é a melhor paga que se espera e deseja.